Alô? Ta me ouvindo?
- laoccpsmedufc
- 1 de mar. de 2019
- 4 min de leitura
Diversas situações podem levar você a ouvir menos, seja um ouvido tampado, um corpo estranho no ouvido ou até doenças mais graves. Muitas vezes, perda da audição (surdez) pode ser também consequência de outros problemas já presentes.

"Ouvido tampado"
Muitas vezes, principalmente quando subimos ou descemos serras ou decolamos de avião, sentimos nossos ouvidos tampando. Não se preocupe, é uma coisa normal que geralmente ocorre quando há uma mudança da pressão atmosférica local. Quando vamos para locais de maior ou menor altitude a pressão atmosférica pode ser menor ou maior (respectivamente), o que afeta diretamente nossos ouvidos. Há um estrutura na divisão da orelha esterna com a média chamada tímpano. Ele é responsável por receber as ondas sonoras e vibrar, transmitindo essa vibração para os ossículos e para estruturas da orelha interna, finalmente transformando em impulsos nervosos que serão interpretados pelo córtex cerebral. Após o tímpano, na orelha média, há um canal chamado tuba auditiva, que fica fechada em geral, mas quando há diferenças pressóricas abre-se, pois o ar de dentro da orelha média sé afetado pela nova pressão, expandindo ou retraindo, fazendo o mesmo com o tímpano, causando dor. Ao abrir, a tuba permite ar entrar ou sair, equilibrando as pressões externa e da orelha média. Quando o tímpano está distendido, dá a sensação de ouvido tampado. Assim, ele não vibra adequadamente, não propagando a vibração para os ossículos e levando-nos a ouvir adequadamente.
Corpo estranho: A orelha externa é composta por um canal que vai do meio externo até o tímpano, e tem a função de concentrar as ondas sonoras do ar e conduzi-las até o tímpano. Quando há um corpo estranho, ou seja, um inseto, um objeto, cera de ouvido, a condução das ondas é bloqueada, impedindo que possamos ouvir. Para retirada do corpo estranho, vá a um médico da unidade de pronto atendimento ou um otorrinolaringologista. Evite mexer ou tentar tirar por si só, pois pode inserir o corpo estranho mais para dentro ou até fazê-lo furar o tímpano. Se o corpo estranho ficar por muito tempo há inflamação no ouvido e produção de pus que escorre pelo ouvido, além da dor comum das otites externas.

Perfuração de tímpano
Acidentes, manuseio errôneo de objetos como cotonetes e outras causas podem levar a perfuração do tímpano, que, com base no mecanismo explicado anteriormente, não será capaz de conduzir vibração e nos permitir ouvir.
Surdez
Há surdez por diversas causas. Dentre os tipos de surdez, encontram-se:
Surdez metabólica: Na orelha interna há a cóclea, que possui o órgão de corti envolvido por um líquido chamado linfa, a qual possui em sua composição uma concentração muito elevada de íons potássio, e pequena concentração de íons sódio, a qual tende a se equilibrar com os íons do líquidos extracelular (entra sódio e sai potássio), porém o equilíbrio nunca é alcançado devido a uma bomba de sódio-potássio dependente de ATP que mantem sempre as concentrações originais. Por ser dependente de ATP precisa de energia para funcionar, que é obtida a partir da entrada da glicose na célula, que é permitida pela ação da insulina nessas células. Porém, o excesso de disponibilidade de insulina reduz os receptores de insulina nessas células (fenômeno chamado dessensibilização) o que reduz a entrada da glicose e a produção de ATP. A hiperinsulinemia está ficando cada vez mais comum, principalmente devido ao consumo excessivo de açúcar. Sem o órgão de corti funcionando adequadamente, as vibrações provindas das estruturas da orelha média não podem ser transformadas em estímulos nervosos. O tratamento é tratar a hiperinsulinemia e reduzir o açúcar da dieta.
Surdez de origem vascular: O labirinto, órgão auditivo da orelha interna, é muito sensível à falta de sangue ou hipoglicemia, pois necessita de ATP e não tem reservas de glicogênio. Doenças centrais como insuficiência cardíaca, disrritmias e outros problemas cardiovasculares; ou periféricas, como arterosclerose, embolia e trombose podem diminuir o aporte sanguíneo para certas áreas, incluindo o labirinto. Em casos de oclusão vascular ou isquemia, quanto mais próximo do órgão, mais específicos são os sinais e sintomas. A irrigação provém de artérias que também irrigam o cerebelo, tronco encefálico e também fazem comunicação com o sistema de irrigação do cérebro. Anamnese auxilia na identificação de problemas que possam causar a surdez vascular. O labirinto é responsável tanto pela audição quanto pelo equilíbrio, portanto pode haver tonturas (vertiginosas ou não). O termo vertigem indica sensação de giro. Pode ocorrer: surdez súbita com vertigem, disacusia neurossensorial por desvio de sangue ou síndrome de Walleberg.
I. Geralmente a primeira é associada com trombos ou embolismos;
II. A segunda se dá em pessoas acima de 40 anos devido ao estreitamento da carótida. É progressivo e associado a zumbido. A tontura não é vertiginosa, mas sim de desequilíbrio. Poda haver escurecimento da vista, fraqueza e sensação de desfalecimento ao levantar;
III. A Síndrome de Wallemberg é a oclusão da artéria vertebral, e causa vertigem súbita, náusea, vômito, diplopsia, disartria, disfagia e disfonia.
*É importante ficar atento à essas condições, pois podem levar a um desfecho fatal.
Surdez auto-imune: Ocorre geralmente em pacientes portadores de doenças auto-imunes, como Artrite Reumatóide, Síndrome de Cogan, Vasculite Sistêmica, Tireoidite de Hashimoto ou pode ser um comprometimento específico do labirinto. Pode ser progressiva ou súbita, geralmente associada de zumbido e pode estar associado a tontura rotatória ou não. Não há características específicas no exame de audiometria. Tanto estruturas sensoriais (órgãos da orelha externa) como neurais podem ser afetadas pela reação auto-imune. Faz-se diagnóstico diferencial com outras causas de surdez súbita. O tratamento pode ser feito com anti-inflamatórios esteroidais pela sua capacidade de deprimir o sistema imune. O diagnóstico deve ser feito rápido e o tratamento, imediato.
Hiag Leal
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